Não é preciso que uma mulher seja agredida fisicamente, para
estar vivendo violência. Muitas vezes, a violência acontece por meio de
palavras, que afetam comportamentos e autoestima, gerando problemas emocionais
e psicológicos.
É sempre bom lembrar que quando uma mulher é assassinada ou
sofre espancamento, é uma violência física que não começou ali, mas, com
certeza, já passou por uma violência psicológica, que é aquela violência da
humilhação, do xingamento, de dizer que a mulher é burra, que é incapaz de
sobreviver sozinha ou criar as(os) filhas(os).
A violência sempre mobiliza muitas memórias, emoções e
sentimentos dolorosos entre as mulheres e, por isso, não pode permanecer
silenciada e impune. É preciso meter a colher! A violência sexista é qualquer
conduta, ação ou omissão que discrimine, agrida, maltrate ou obrigue as
mulheres a fazerem algo (ou deixarem de fazer) pelo simples fato de serem
mulheres.
Luta coletiva
Pensamos o corpo como primeiro território, portanto,
defender cada um dos corpos das mulheres é mais que uma luta de sobrevivência
pessoal, é uma luta coletiva. Queremos todas livres, autônomas e vivas. Nossos
corpos são cheios de vida, memória e sensibilidade, mas também são
condicionados pelas dores e explorações que se expressam em nossos lares e em
nossas comunidades.
A Lei Maria da Penha é resultado das lutas dos movimentos
feministas e de mulheres. Esta lei tem o objetivo de punir com mais rigor os
agressores responsáveis pelos atos de violência contra as mulheres, no âmbito
doméstico e familiar. A lei reconhece, pelo menos, cinco tipos de violência que
podem e devem ser denunciadas, para que se adotem medidas de proteção das
vítimas e punição dos agressores, são elas:
– Violência física:
ação que ofende, prejudica o corpo ou a saúde da mulher (tapas, socos,
empurrões, beliscões, puxão de orelha e de cabelo, arranhões…);
– Violência
psicológica: aquela que causa dano emocional, diminuição da autoestima e
prejudica o desenvolvimento pessoal (ameaças, constrangimentos, perseguições,
insultos, chantagem, ridicularização…);
– Violência sexual:
qualquer conduta do agressor que obrigue a mulher a assistir, manter ou
participar de relação sexual que ela não deseja;
– Violência
patrimonial: atitude que reter, retirar ou destruir partes ou todos os
objetos das mulheres, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
direitos ou dinheiro;
– Violência moral:
quando o agressor atinge a honra e a imagem da mulher, com calúnia, difamação
ou injúria.
Quando a sociedade caracteriza as mulheres como frágeis,
meigas, choronas, está limitando melhores oportunidades e impondo
desigualdades. As estatísticas confirmam essa posição desigual. Do ponto de vista
econômico, as mulheres são mais pobres que os homens e, considerando as
dimensões étnicas e raciais, as mulheres negras, não só recebem menos que os
homens, como também menos que as mulheres brancas, tendo ainda menos acesso à
propriedade da terra.
Autonomia e liberdade
Lutar pela autonomia e liberdade das mulheres significa
defendermos que as decisões sobre os rumos de suas vidas sejam tomadas por elas
próprias, considerando as expectativas sociais mas, ao mesmo tempo, decidindo
por sua própria avaliação, o que é melhor fazer a cada situação que a vida apresenta.
Estudar ou não; formar-se nisso ou naquilo; manter-se
agricultora; ter participação política no sindicato e nos movimentos; querer e
lutar pela titularidade da terra; produzir de forma agroecológica… se para os
homens estas podem ser simples escolhas de vida, para as mulheres, cada opinião
declarada, cada decisão, representa um marco na luta por autonomia e liberdade,
afinal, ao longo da história, essas decisões sobre os rumos de suas próprias
vidas foram constantemente negadas. A ideia do patriarcado é que os homens
sejam considerados a referência e os donos do poder sobre as mulheres e a
família, e em toda a sociedade.
Para o feminismo, autonomia e liberdade são sempre duas ideias que andam juntas. Para uma mulher agir com autonomia, ela precisa ser livre para pensar por si mesma e pensar em si. Ela precisa estar liberta das imposições da sociedade, que determinam o que deve fazer e como se comportar.
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Fonte: Cadernos de debates: desenvolvimento sustentável na perspectiva das mulheres do campo, da floresta e das águas – Publicação da Secretaria de Mulheres Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares (Contag)