Author Archives: mda

  • -

Intercâmbio divulga princípios agroflorestais no cultivo de alimentos

Um grupo de 20 agricultoras e agricultores dos municípios de Caseiros e Muliterno, na região norte gaúcha, participou de um intercâmbio no Sítio Dossel, em Sananduva/RS, no dia 18 de maio. A atividade foi organizada pelo CETAP e pelo Grupo Pé na Terra e aconteceu pela vontade de uma agricultora de Caseiros que participou de uma oficina sobre Sistemas Agroflorestais (SAFs), em Ciríaco, no ano passado. Seu entusiasmo foi tanto que resolveu disseminar esse conhecimento entre agricultoras e agricultores do seu território, buscando divulgar os princípios agroflorestais no modo de cultivar alimentos.

A visita foi guiada pelo agricultor agrofloresteiro Josué Gregio, coordenador geral do CETAP, no Sítio Dossel, espaço onde sua família produz alimentos de forma agroecológica. Josué explicou sobre como aplica o sistema agroflorestal aliado à produção de hortaliças nos primeiros anos de implantação. Durante a visita foi possível demonstrar diferentes etapas do sistema e diferentes etapas do manejo. Todos os presentes puderam tirar suas dúvidas e houve muito conhecimento compartilhado de ambas as partes.

Ao final da tarde o grupo desfrutou de um lanche no restaurante Utopia, que utiliza diferentes alimentos nativos do Rio Grande do Sul no seu cardápio, incluindo hortaliças da época, produzidas no Sítio Dossel. O restaurante elabora pratos e lanches de acordo com a sazonalidade de alimentos disponíveis, com insumos orgânicos e locais. A avaliação da atividade foi muito positiva e o grupo decidiu dar continuidade na discussão sobre sistemas de produção.     Este intercâmbio integrou as ações do projeto “Consumidores e Agricultores em Rede”, desenvolvido pelo CETAP em parceria com a Misereor.


  • -

Seminário Internacional debate a democratização de alimentos agroecológicos

Realizado na UFSC nos dias 25 e 26 de abril, o 2º Seminário Internacional “Alimentos saudáveis: Redes Agroecológicas de Produção-Consumo” contou com um público (presencial e online) de centenas pessoas em torno de suas palestras, debates e grupos de trabalho, além da feira agroecológica com uma oferta diversificada de alimentos processados e in natura.

O evento cumpriu o papel de estreitar os laços entre os atores da cadeia agroecológica, na perspectiva do acesso ampliado aos alimentos saudáveis. Estes, por sua vez, não são tratados como meros produtos, mas como um ativo fundamental na garantia da segurança alimentar e nutricional, da justiça social e da conservação do meio ambiente. Tais características fundamentam a Agroecologia, cujo arcabouço supera os limites e a abrangência da produção orgânica, geralmente acessível apenas por públicos mais privilegiados.  

Durante a mesa “Formas Públicas e Solidárias de Abastecimento com Alimentos Agroecológicos”, o professor Renato Maluf, que atua na coordenação nacional do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricionalalertou para que o tema da alimentação não seja reduzido à comercialização. “Abastecimento é uma questão de acesso. É necessário fazer uma disputa pelo controle social do abastecimento”, frisou Maluf. Como exemplo ele cita as ações de abastecimento emergencial que rapidamente foram postas em prática diante da calamidade da pandemia, que devem ser potencializadas e servir de inspiração para novas iniciativas, políticas públicas e programas.

Para Humberto Palmeira, representante na mesa do Movimento de Pequenos Agricultores, o acesso à comida de verdade para a população pode ser baseado num sistema como o SUS: “Se, ao lado de cada unidade básica de saúde tivéssemos uma feira, facilitaríamos o acesso à alimentação saudável”, propõe. 

Diversos canais de acesso aos alimentos foram abertos pela sociedade civil durante a pandemia, seja na forma de doação de cestas de alimentos ou na consolidação de cozinhas comunitárias, entre outras iniciativas, que garantiram a sobrevivência de muitos grupos populacionais em situação de vulnerabilidade extrema. Dividindo a mesa com Renato Maluf, a administradora pública Isabela Barbosa, coordenadora da Rede com a Rua, enfatizou que tais ações não devem estar restritas à filantropia e ao voluntariado. “Apenas levar os alimentos não resolve nosso problema. Precisamos de incidência para construir políticas públicas, porque a Alimentação é um direito”, realçou Isabela em sua fala.

O papel da comunicação no fortalecimento da Agroecologia foi discutido na palestra de abertura “Comercialização de alimentos saudáveis e redes agroecológicas de produção-consumo.” A nutricionista, socióloga da alimentação e professora Elaine de Azevedo, autora do podcast Panela de Impressão, falou sobre a necessidade de criar redes de comunicação e propagar as pesquisas e informações referentes à Agroecologia. Tais ações objetivam tanto democratizar os conhecimentos, como também fazer o enfrentamento ao agronegócio, que tem uma máquina sofisticada de propaganda. “Agroecologia não é só uma prática agrícola, é uma ciência. E ela não produz só alimento, produz futuro”, disse a professora ilustrando seu posicionamento.

As 4 mesas de debates do Seminárioalém de sua Assembleia e Plenária Final, estão disponíveis na íntegra no canal do Cepagro no Youtube.

Além das mesas de debate, a programação do Seminário abriu espaço para a participação ativa dos/as inscritos/as a partir dos Grupos de Trabalho. Cada grupo refletiu sobre um tema do universo do abastecimento agroecológico e conduziu a discussão partindo de três perguntas orientadoras. Confira os principais assuntos e encaminhamentos propostos pelos 5 GT’s:

GT 1 – Comunicação para consumidores

1.Quais os limites/dificuldades para a comunicação com consumidores?

Tempo e disponibilidade de quem produz; Falta de domínio das ferramentas; e falta de articulações e troca de serviços para este fim.

2.Quais os potenciais para a qualificação da comunicação entre produtores e consumidores visando fortalecer a agroecologia?

Conscientização e educação alimentar, entendimento das realidades produtivas, potencialização dos mercados, fidelização e fortalecimento das iniciativas; Inclusão das consumidoras/es na cadeia produtiva; Ressignificação do hábito de consumo; Fortalecimento das feiras e das vendas diretas, qualificando a defesa oral da produção; Fortalecimento da comunicação via redes sociais; Fortalecimento de mercados não diretos; Comunicação acessível.

3.Quais propostas/sugestões de encaminhamento para qualificar a comunicação entre produtoras e consumidoras visando fortalecer a agroecologia?

Alinhar a narrativa aos diferentes públicos;  Ampliar o trabalho em rede; Qualificar a ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural, pública e da sociedade civil) em temas relacionados à comunicação; Aproximar prestadores de serviço com ênfase em comunicação de projetos voltados à agroecologia; Pensar soluções coletivas de comunicação; Ter entidades e organizações se envolvendo diretamente na aproximação entre consumidoras e produtoras; e formar campanhas coletivas entre as organizações.

GT 2 – Articulação entre restaurantes, lojas e organizações de agricultores

1.Quais os limites/dificuldades para a organização dos/as consumidores/as?

Mudança de interesses individuais, para interesses coletivos e a ação cidadã em rede; A qualidade de um bom serviço pode ser um bom alimento e isso passa a ser primordial e incentivo econômico. O alimento local passa a preconizar a ação em rede; A logística de transporte e abastecimento adequada a realidade da agricultura familiar e restaurantes. Como incluir licitações e grandes empresas?

2.Quais os potenciais para maior organização dos/as consumidores/as visando fortalecer a agroecologia?

Valorização do alimento e dos agricultores, junto ao abastecimento alimento de qualidade na cidade; Utilizar logísticas de distribuição já existentes como de organizações públicas e privadas; Restaurantes agroecológicos: marca coletiva para os restaurantes que utilizarem alimentos orgânicos, agroecológicos e em transição. Restaurantes que apoiam a AF; Fortalecer grupos de agricultores para que possam abastecer grandes volumes conjuntamente, unindo as produções individuais de cada um; A relação direta e preços mais estáveis ao longo do ano, expansão do consumo consciente. Corresponsabilidade entre restaurantes, produtores e consumidores. Alimentos saudáveis na cidade são um bem para todos; Estimular a participação de ATER, ONGs e toda sociedade.

3.Quais propostas/sugestões de encaminhamento para organização dos/as consumidores/as visando fortalecer a agroecologia?

Organização em rede desde a base (agricultores) aos consumidores (restaurantes). Quais modelos ideais? Cooperativa/Associação de restaurantes para escalonar essa ideia; Formalização de uma Marca Coletiva, identidade resguardada, defesa de interesses e princípios em comum; Ação de conscientização do consumo orgânico e agroecológico nas cidades; Pesquisas junto aos consumidores; Quais formas de logística são possíveis?

GT 3 – Organização de grupos e cooperativa de consumidores

1.Quais os limites/dificuldades para a organização dos/as consumidores/as?

Disponibilidade dos consumidores em se engajar com a organização do grupo, especialmente por falta de tempo; Sensibilização dos/as consumidores/as, especialmente no sentido de instigar a percepção sistêmica da rede agroecológica, e não se ver como um mero consumidor; Locais adequados para centralizar alimentos; Rede de fornecedores; Financeiro (falta de subsídio); Formas de acesso (necessidade dos democratizar o acesso aos alimentos agroecológicos); e comunicação (melhorar a comunicação e a divulgação).

2.Quais os potenciais para maior organização dos/as consumidores/as visando fortalecer a agroecologia?

Organização e fortalecimento da coletividade (idec, Mapas, Consea, Cepagro, lacaf); Redes de comunicação; Redes de economia solidária; Qualidade e confiança; Redes de amizade; Envolvimento de consumidores; Existência de referências étnicas e/ou ancestrais; Saúde (busca por melhores alimentos saudáveis); Acesso a diversidade de alimentos; Educação (escolas com espaços de educação alimentar); Grupos locais de consumo; Disponibilidade / oferta (aumentar o volume da demanda, compras em grupo); Maior conhecimento ou popularização do assunto; e criar escala (compras em quantidade, organizar a produção e melhorar o custo benefício).

3.Quais propostas/sugestões de encaminhamento para organização dos/as consumidores/as visando fortalecer a agroecologia?

– Formas de comercialização: Criar loja coletiva; Remuneração do trabalho de gestão; Tecnologia, logística e e-commerce; Montar organização cooperativa mista com agricultores e consumidores; Entreposto; e Rede nacional cooperativa.

– Mapeamentos: Mapeamento de pessoas já sensibilizadas; Identificar outras organizações que já trabalham com consumidores; Mapear interessados em associação de bairro;

– Maior presença e autonomia: Diversificar rede de parcerias; Roda de conversas com degustação; Maior dedicação e engajamento dos agricultores juto aos consumidores; Consumidores ativos no processo de aprendizagem; Provocar encontros e conversas sobre Agroecologia; Aproveitar grupos existentes (condomínio, sindicatos, escolas, associações de bairro, moradias populares e igrejas).

– Acesso à informação: Mais propaganda e comunicação; e Esclarecimento dos sistemas de consumo de produtos agroecológicos.

– Incidência política: Bolsa Família e Vale-feira; Restaurantes populares; Rede colaborativa, troca de serviços por produtos, moedas sociais.

– Atividades Educativas e vivências práticas: Educação agroecológica crítica; Atividades formativas conjuntas de precificação e organização da produção; Eventos culturais; Compartilhar experiências internacionais; Agroturismo; Agricultura familiar sustentável de forma solidária através de hortas e compostagem nos bairros; Intercâmbios e promoção de atividades conjuntas com consumidores e agricultores; Encontros com consumidores já organizados; Iniciar o debate de consumidores a partir de outros grupos.

GT 4 – Equipamento Público de Abastecimento Solidário

Limites/dificuldades para a organização dos/as consumidores/as:

Falta recurso financeiro, equipamentos, desmonte da assistência à população; Equipamento público não resolve tudo. Sempre vai precisar do solidário; Precisa sensibilizar as pessoas sobre a importância dos equipamentos públicos e das políticas; Com o negacionismo, precisamos de formação política e re-sensibilizar as pessoas sobre o direito humano à alimentação; Falta de comunicação e integração intersetorial para redução da Insegurança Alimentar; A alimentação não está entre as 10 prioridades do Ministério da Saúde.

GT5 – Redes locais e internacionais

1. Quais os limites/dificuldades para a organização das redes locais e internacionais de produção-consumo?

Ter uma escala de produção dentro de uma escala da necessidade (como o local); Transporte; Promover a agricultura para os jovens (quem vai a produzir nos próximos anos e em que terra?); Como fazer a transição agroecológica? E quem fica no meio?; A perda de alimentos; Trabalhar com a sazonalidade dos alimentos; Como a gente otimiza o conhecimento público da agroecologia para além do não agrotóxico?; Como discutir agroecologia em contextos diferentes.

2. Quais as potencialidades para maior organização das redes locais e internacionais de produção-consumo para fortalecimento da agroecologia?

Estão pensando em fazer uma troca Brasil e Paraguai dentro do SPG; A transparência é uma potencialidade para a fidelização do cliente (como se forma o preço, para onde vão os ganhos, quem é o produtor); Aproveitar a escola como um centro institucional para a educação alimentar e criar consciência; Quebrar com a potencialidade das redes, com o paternalismo do Estado; Enorme potencial do consumidor de ultraprocessados para o comedor agroecológico. Há uma necessidade também de aumentar o número de grupos certificados, assim como a produção e a área da produção; Do indivíduo à sociedade civil organizada.

3. Quais propostas/sugestões de encaminhamento para organização das redes locais e internacionais de produção-consumo visando fortalecer a agroecologia? 

Aproveitar as redes sociais (o que mantém as redes são os nos/nós); Universalizar o alimento, democratizá-lo, torna-o um direito; Contornar as limitações da política de compras públicas, aproveitando a potencialidade do setor privado; Levar para as escolas a agroecologia como uma área interdisciplinar do conhecimento; Engajar os grupos de consumidores e compra coletiva (como a compra de bioma) e articular as diversas experiências com as diferentes demandas; Encontrar pontos comuns e projetos coletivos; Pensar em Redes de Apoio que estão interligadas nas necessidades do cotidiano, que resolvem problemas das pessoas em suas condições como pessoas; Abastecimento popular como uma ação comum.

Realização e apoio

O 2º Seminário Internacional “Alimentos saudáveis: Redes Agroecológicas de Produção-Consumo” foi organizado pelo Cepagro, Núcleo Santa Catarina da Aliança Pela Alimentação Adequada e Saudável, Associação Slow Food Brasil, LACAF/UFSC, NUPPRE/UFSC e Centro Vianei de Educação Popular. O apoio foi da Misereor, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias da UFSC, Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas/UFSC, SESC, CETAP, AS-PTA, Cresol, CESE e Fundação Inter-Americana.

.

*Por Fernando Angeoletto
Jornalista do projeto Consumidores e Agricultores em Rede


  • -

Encontro Estadual das Feiras Agroecológicas debate o fortalecimento da agroecologia e propostas para ampliar o acesso à alimentos saudáveis

No dia 23 de abril, marcando um momento histórico, estiveram reunidos em Passo Fundo/RS representantes de mais de 20 feiras agroecológicas que acontecem em cidades gaúchas, além de entidades de assessoria técnica, sindicatos, cooperativas e organizações que apoiam a produção agroecológica. O evento, que reuniu mais de 250 pessoas, foi organizado pelo Cetap (Centro de Tecnologias Alternativas Populares), pela Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo e pela Coonalter (Cooperativa Mista e de Trabalho Alternativa) e também destacou os 25 anos da Feira Ecológica de Passo Fundo.

As feiras ecológicas são espaços promotores da agroecologia e de diferentes dinâmicas de comercialização. Elas são importantes tanto no apoio e viabilidade econômica da agricultura familiar agroecológica, como no abastecimento de alimentos saudáveis para os centros urbanos. A partir da trajetória e do aprendizado de diferentes feiras ecológicas gaúchas, o encontro buscou discutir propostas para o fortalecimento da agroecologia e construção de políticas públicas de apoio à agricultura familiar e garantia do abastecimento e segurança alimentar nas cidades.

Uma apresentação do Grupo de Percussão do Lar da Menina Padre Paulo Farina, da Fundação Lucas Araújo, de Passo Fundo, marcou o início das atividades da manhã. Mais de 30 crianças e adolescentes animaram os participantes com seus ritmos contagiantes. Na sequência, o biblista e teólogo Marcelo Barros fez uma fala sobre ecologia e espiritualidade. Destacou que não basta pensar só no próprio corpo e nos alimentos consumidos para a própria saúde, sem considerar como eles são produzidos e os impactos na natureza. É preciso cuidar da terra, da água e do ambiente de forma integrada, como um todo, nos inserindo nele, pois só assim teremos condições de preservar as condições para que todos possam continuar se alimentando com produtos de qualidade.

A mesa de abertura contou com a presença de Laércio Meireles, pelo consórcio de ONGs de assessoria em agroecologia no estado, Eliane Brochet, pelo Consea-RS (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), Franciele Bele, pelas feiras ecológicas de Porto Alegre, Álvaro Delatorre, da direção do MST e das feiras ecológicas de Porto Alegre, Adriana Tozo, representando o deputado estadual Adão Preto Filho, Gilmar Vieira, representando a deputada federal Maria do Rosário, Renê Tortelli, pela Cresol, Alceu Primel, pela Coonalter, Luiz Costela, pela Cáritas e Edson Klein, pelo Cetap. Foi destaque o ineditismo deste encontro e a necessidade de momentos como este, para ampliar a articulação e propor ações conjuntas.

Em complemento as falas iniciais, aconteceu uma roda de conversa para discutir a importância das feiras como promotora da agroecologia e de diferentes dinâmicas de comercialização para o abastecimento das populações urbanas. Nelsa Nespolo, da Unisol (Central de Empreendimentos Econômicos Solidários), Álvaro Delatorre, das feiras de Porto Alegre, Ana Meireles, das feiras do litoral, Maristela Ferro, produtora agroecológica, Giovani Gonçalves e Alvir Longhi, do Cetap participaram deste momento.

Falar de feiras ecológicas é falar de soberania e segurança alimentar e também de sucessão familiar. As feiras cumprem um papel muito importante na agricultura familiar, especialmente na economia doméstica e na valorização de jovens e mulheres. Neste sentido, políticas públicas de fomento às feiras e organização produtiva de jovens e mulheres é fundamental para manutenção da diversidade e da força de trabalho nos espaços rurais.

Nunca antes a alimentação e cultura alimentar dos povos esteve tão reduzida a poucos cultivos e tão concentrada, sob controle de grandes corporações do agronegócio. Não existe território autônomo se não se garante a soberania alimentar, por isso o ato de se alimentar tem dimensão política e a fome também expressa um modelo de relação social. A alimentação saudável e seus modelos de produção precisam ser trabalhados na educação das crianças e jovens. Desenvolver a agroecologia é estabelecer laços de sociabilidade e cooperação.

É preciso acreditar na acumulação que não seja de capital, mas de qualidade de vida. “Seu jeito de consumir é um jeito de preservar e de cuidar”. As feiras tem relação direta com o momento de emergência climática, pois trabalham com circuitos curtos e oferecem alimentos com um custo energético muito menor, tanto na da produção, como na comercialização. Os produtos da biodiversidade nativa encontraram nas feiras um espaço de valorização que desencadeou novas perspectivas de cultivo e de organização do trabalho na agricultura familiar e entre organizações de assessoria técnica.

A roda de conversa também afirmou a necessidade de viabilizar espaços de continuidade de encontros como este, com a criação de um fórum onde as feiras possam se articular, pautar demandas, elaborar propostas coletivas e participar da construção de políticas públicas sobre produção, processamento e comercialização de alimentos.

Durante o encontro foi elaborada uma carta reafirmando a importância das feiras ecológicas como promotoras da agroecologia. Uma equipe está responsável por incorporar as manifestações feitas durante a roda de conversa e dar uma redação final ao documento, que será divulgado em breve. Também foi aprovada uma moção de apoio às Feiras Ecológicas de Porto Alegre, documento que será entregue para a Prefeitura Municipal com relação ao regramento que está sendo proposto.

A trajetória das três organizações anfitriãs do encontro teve e mantém papel importante para a produção agroecológica na região e na história dos 25 anos da Feira Ecológica de Passo Fundo. Neste sentido, foram homenageados o atual presidente da Coonalter, Alceu Primel e também familiares de três presidentes da cooperativa já falecidos: João Maria, Jair Pressi e Fernando Cé. Luiz Costela e Eliane Brochet receberam a homenagem pelos 60 anos da Cáritas e Edson Klein, pelos 37 anos do Cetap. A família do senhor Theobaldo Ângelo Locatelli também recebeu uma homenagem pelo pioneirismo e dedicação em criar uma área urbana de referência em promoção da agroecologia, conservação e uso da biodiversidade, local onde atualmente funciona a sede do Cetap.

Todos os presentes puderam aproveitar um almoço preparado exclusivamente com alimentos agroecológicos. O preparo foi feito pelo grupo de mulheres da agroindústria Flor de Pitanga, de Itatiba do Sul/RS. Além de uma mesa vegetariana, a paçoca de pinhão e o porco crioulo assado e servido com calda de frutas nativas, foram muito elogiados. Na parte da tarde, os participantes tiveram um momento de integração, com música ao vivo e festejos pelos 25 anos da Feira Ecológica de Passo Fundo. 

Este evento foi uma atividade apoiada pelo projeto de cooperação para promoção da agricultura sustentável e segurança alimentar, desenvolvido pelo CETAP em parceria com a Fundação Interamericana (IAF) e também integrou as ações do projeto “Consumidores e Agricultores em Rede”, desenvolvido pelo CETAP, Cepagro, AS-PTA e Centro Vianei, com apoio da Misereor.


  • -

Seminário sobre manejo de solo e insumos biológicos reúne agricultores em Constantina

Um seminário com o tema “Agroecologia, manejo de solo e insumos biológicos” foi realizado no dia 20 de abril, no Auditório Cresol Noroeste, em Constantina/RS. A atividade integra o ciclo de Seminários Técnicos sobre Agroecologia, organizados em parceria pelo CETAP, Coopertec e Cresol. Participaram 47 pessoas, entre agricultores familiares e representantes das organizações parceiras.

O objetivo foi oportunizar formação para agricultores e agricultoras familiares nos temas relacionados à agroecologia. Neste dia o trabalho esteve voltado para o manejo de solo na produção orgânica, destacando a necessidade de disponibilizar nutrientes, matéria orgânica, além de manter cobertura sobre o solo, para que, assim, a microbiologia se desenvolva e deixe o alimento disponível para as plantas.

É muito comum encontrarmos propriedades que não trabalham com cobertura de solo, não usam compostos orgânicos, minerais e isso por vários motivos, seja por falta de conhecimento, acesso à esses insumos ou ainda por condições financeiras. No seminário foi demonstrado que muito disso pode ser solucionado com materiais da própria propriedade, seja na coleta de esterco, palhas, microrganismos, minerais que estejam disponíveis na propriedade ou mesmo na região.

O equilíbrio entre elementos físicos, químicos e biológicos do solo são fundamentais para que a cultura possa expressar todo o seu potencial produtivo e alcançar altos índices de produtividade. Para preservar e aumentar a atividade da microbiologia do solo é necessário fornecer condições adequadas ao desenvolvimento e sobrevivência dos microrganismos. O processo de degradação do solo, bem como suas causas e consequências, ocorre por vários motivos e resulta na perda da produtividade, além de causar impactos socioambientais. Ao final do seminário, foi apresentada como demanda do grupo que se possa dar continuidade neste trabalho de formação técnica e troca de experiências. Abordando práticas em culturas específicas e com unidades de referências, mais famílias poderão fazer a transição para a agroecologia.


  • -

Mutirão inicia revitalização da horta comunitária no bairro Záchia, em Passo Fundo

No mês de abril foram retomadas as atividades em hortas urbanas comunitárias na cidade de Passo Fundo/RS. Um grupo de 15 pessoas, incluindo técnicos do CETAP e estudantes e professores da Universidade de Passo Fundo (UPF), realizou um mutirão na horta comunitária localizada no Bairro Záchia, na periferia da cidade.   

O objeto é restaurar a horta comunitária do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), a fim de reativá-la para uso comunitário. Na horta serão cultivados alimentos e ervas medicinais, mobilizando as usuárias do serviço e outras pessoas da comunidade na discussão sobre segurança alimentar e produção agroecológica urbana.  

Foi realizado um mutirão de revitalização do espaço, com cercamento do local que já vinha sendo usado pelo serviço. Além da limpeza no local, foi feito o manejo dos canteiros, com adubação e cobertura do solo, além do plantio de hortaliças e plantas medicinais. No final do mutirão aconteceu uma partilha de alimentos agroecológicos e foi feita uma discussão sobre mobilização comunitária. Entre os encaminhamentos, foram planejados outros encontros de manejo da horta e articulação com o serviço      público. Esta atividade integrou as ações do projeto “Consumidores e Agricultores em Rede”, desenvolvido pelo CETAP, Cepagro, AS-PTA e Centro Vianei, em parceria com a Misereor.


  • -

Pavilhão da Agricultura Familiar é destaque na Expo Itatiba

De 31 de março a 2 de abril de 2023 aconteceu a Expo Itatiba, em Itatiba do Sul/RS, por onde passaram cerca de 3.000 pessoas por dia. O CETAP teve uma banca no evento, onde distribuiu diversos materiais e divulgou o trabalho com a agroecologia na região, além de contribuir na organização das bancas da Ecoterra e da Agroindústria Flor de Pitanga.

A Expo Itatiba buscou estimular o comércio local e divulgar as potencialidades do município para a região. Foram organizados diferentes espaços: pavilhões de vendas em geral, brinquedos para as crianças, shows, rodeios, espaços de culinária e food truck, além do pavilhão da Agricultura Familiar, onde foram montadas as bancas do CETAP, da Ecoterra e da Agroindústria Flor de Pitanga.

A Agroindústria Flor de Pitanga, formada por um grupo de mulheres do município, levou diversos produtos para a venda, como bolos, bolachas, tortas, pizza, doces, suco de butiá, entre outros. Já a Ecoterra, que reúne famílias agricultoras agroecologias que formam a Associação Regional de Cooperação e Agroecologia, esteve presente com comercialização de suco de laranja feito na hora, abóbora, abacate, alho, cebola, batata doce, gengibre, limão, entre outros produtos produzidos na região.


  • -

Curso de Homeopatia na Agricultura e Ambiente está com inscrições abertas

Neste ano acontece a terceira edição do Curso de Homeopatia voltado para o ambiente e a produção agrícola, vegetal e animal, especialmente em propriedades da agricultura familiar. As aulas acontecerão presencialmente na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS Campus de Erechim, a cada três semanas, durante os meses de abril a novembro de 2023, totalizando 12 encontros.

Diferente das outras duas edições, que aconteceram no formato virtual, em função da pandemia, desta vez os encontros acontecerão no formato presencial, reunindo os participantes na UFFS, em Erechim/RS. A primeira aula será no dia 27 de abril, uma quinta-feira. O dia da semana das demais aulas será definido no início do curso, podendo ser às terças, quartas ou quintas-feiras. O cronograma será disponibilizado durante o primeiro encontro.

Entenda um pouco mais sobre a proposta do curso no vídeo de divulgação:

O curso não terá custo de matrícula e será fornecido certificado de extensão aos alunos que concluírem as atividades propostas. O número de vagas é limitado e as inscrições podem ser feitas diretamente com as entidades organizadoras do curso:

  • UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim/RS (com Prof. Tarita)
  • CAPA – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (com Vitor)
  • CETAP – Centro de Tecnologias Alternativas Populares (com Albenir)
  • Cresol (com Silvano)
  • MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens (com Graziele)
  • Sutraf Alto Uruguai (com Bagnara).

  • -

Curso de viveirismo artesanal aborda técnicas de produção de mudas

No dia 29 de março aconteceu na sede do CETAP, em Passo Fundo/RS, um curso sobre viveirismo artesanal, reunindo 30 pessoas, entre agricultoras, agricultores, viveiristas e equipe técnica do CETAP. A atividade é vinculada a ação de identificação de matrizes de árvores nativas do Rio Grando do Sul, para produção de mudas e incentivo ao cultivo de espécies da biodiversidade regional.

Cursos sobre técnicas de produção de mudas em viveiros artesanais é uma atividade proposta no projeto desenvolvido pelo CETAP desde 2022 e que conta com o apoio da NEO Energia. O objetivo é possibilitar que mais famílias desenvolvam autonomia para produzir suas próprias mudas, com seus recursos locais, no intuito de fomentar a biodiversidade, incentivando o plantio e cultivo das árvores nativas do estado. 

O conteúdo do curso foi desenvolvido através do diálogo, trocando diferentes experiências dos participantes e esclarecendo dúvidas. A atividade, realizada durante todo o dia, contou com a participação dos viveiristas Jadir Zwirtes e Otávio Zwirtes, de Vacaria/RS, que compartilharam princípios sobre o tema. Trabalhou-se as diferentes etapas da produção de mudas, especialmente de árvores frutíferas. Também foi examinado com profundidade os componentes para um bom substrato.

Na oportunidade, foi analisado qual o melhor espaço e técnica para construção de um viveiro na sede do CETAP, com intuito de ser uma central de mudas. A equipe técnica da entidade ficou à disposição das agricultoras e agricultores interessados em construir seus viveiros artesanais, sendo responsável também pela circulação das sementes neste primeiro momento. Ao longo do ano serão realizadas atividades de capacitação sobre o tema em outros municípios da região.


  • -

Biodiversidade: geração de renda e estratégias para alicerçar o desenvolvimento regional

A biodiversidade presente nos ecossistemas brasileiros tem um enorme potencial, que foi negligenciado, em sua grande maioria, ao longo da nossa história. Mesmo assim, algumas destas espécies demonstraram seu potencial de uso e de geração de renda. No Rio Grande do Sul, são inúmeros os produtos florestais não-madeireiros que dinamizam processos socioeconômicos e que alicerçam o desenvolvimento econômico de diversas regiões do estado.

Butiá, Pinhão e Erva-mate, o trio de espécies ou produtos que, do ponto de vista quantitativo, compõem e estruturam cadeias produtivas muitas vezes pautadas na informalidade, mas que inserem milhares de agricultores e extrativistas durante um considerável período do ano e que, orientados pelos princípios da agroecologia, apontam caminhos para a produção de alimentos em sintonia com a preservação ambiental. Um exemplo é a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas, que tem fortalecido experiências de intercooperação entre diferentes atores e atrizes envolvidos nas dinâmicas de produção, beneficiamento e comercialização.

Neste vídeo emergem olhares de instituições de pesquisa, órgãos ambientais, agricultores familiares e organizações da sociedade civil que apontam elementos estruturantes para o avanço da construção de novas economias das cadeias produtivas da sociobiodiversidade.


———————————————————-
Realização:
Centro de Tecnologias Alternativas Populares – CETAP
cetap.org.br
Imagens e roteiro: Tiago Zilles Fedrizzi
Locução: Andressa Ramos Teixeira
Apoio: Equipe Técnica do CETAP – Alvir Longhi e Thais Hopp
Imagens aéreas gentilmente cedidas pelo Coletivo Catarse, originalmente produzidas para o filme “Cooperações Agrobiodiversas em Prática”
Trilha sonora gentilmente cedidas pelo Coletivo Catarse:
– Ilex 2, 3 e 4 – Marcelo Cougo e Rafael Silva
– Carijoso – Gaita Livre

Projeto “Ampliação das estratégias e ações de conservação e uso da água e da sociobiodiversidade em propriedades de famílias agricultoras das regiões norte e nordeste do Rio Grande do Sul”.
Realização: Cetap
Apoio: SEMA/RS e RGE
Ano 2023


  • -

Técnicas de restauração e proteção de nascentes associadas a valorização da biodiversidade nativa

A água é um bem comum essencial para o bem viver das espécies e para a sustentabilidade e prosperidade dentro da agricultura de base ecológica, sendo indispensável para produção de alimentos.

Sua preservação tem ênfase nas ações realizadas pelo Cetap e, neste vídeo, explicamos algumas técnicas de restauração ambiental no entorno de nascentes, onde, em alguns casos, são associadas a intervenções físicas para melhoria da qualidade da água.

As técnicas citadas são: restauração por regeneração natural; plantio de mudas de espécies nativas arbóreas; roçada seletiva, SAF e construção de barreiras físicas, majoritariamente consideradas tecnologias sociais acessíveis, por serem realizadas com recursos de fácil acesso.

Os planos de manejo objetivam valorizar a sociobiodiversidade nativa possibilitando, em muitas realidades, a ampliação de renda das famílias.

———————————————————–
Realização: Centro de Tecnologias Alternativas Populares – CETAP

Imagens: Marcelo Araujo
Apoio: Equipe Técnica do CETAP – Êmily Barbosa Rodrigues e Mário Gusson
Projeto “Ampliação das estratégias e ações de conservação e uso da água e da sociobiodiversidade em propriedades de famílias agricultoras das regiões norte e nordeste do Rio Grande do Sul”.
Realização: Cetap
Apoio: SEMA/RS e RGE

Ano 2023


Buscar

Arquivo

Galeria de fotos

plugins premium WordPress